/ MANIFESTO DO CINEMA HUMANIZADO /
escrito por Sara Marques
Escrevi este manifesto depois de ouvir o discurso de Paul Rogers na cerimónia dos Oscares de 2023. Paul Rogers ganhou o prémio de melhor edição com o filme “Everything, Everywhere, All At Once”.
Nas suas palavras ouvia-se:
“Há um problema na nossa indústria: quanto mais alguém se mata para fazer um filme, mais corajoso se torna e isso é estúpido. Podemos fazer o nosso trabalho e viver as nossas vidas. Quanto mais nos permitirmos a viver as nossas vidas, e quanto maior for o nosso respeito por nós mesmos e para com as pessoas ao nosso redor… melhor será o resultado no nosso trabalho.”
Alguém disse. Alguém, à frente de uma plateia enorme de pessoas do cinema, finalmente, o disse.
O cinema deve estender uma mensagem no tempo, deve servir como expressão de vozes e visões únicas. Sobretudo na montagem, vejo-o como uma forma de organizar o que acontece antes e depois de um olhar, o encontrar a história final: o que queremos dizer com isto? O que queremos transmitir? O que queremos que as pessoas sintam? Ser fiel aos sentidos, aos sentimentos, ser fiel ao que se deseja cortar, sentir ao fazer.
Mas, acima de tudo, acredito que isso só faz sentido se as pessoas que contam histórias e fazem filmes tiverem tempo e saúde para viver as suas próprias histórias e pertencer ao seu próprio filme.
As pessoas desistem de fazer cinema porque estão cansadas de serem maltratadas, mal representadas, instáveis financeiramente, exploradas, viver no limite de não ter uma vida.
O que sobrará do cinema se não sobrarem as pessoas que o fazem? E a que custo?
Acredito que devemos humanizar o cinema, trazer autenticidade às histórias e promover um bom ambiente durante o processo.
Fazer arte tem que ser um prazer, não uma dor.